Rubens Lisboa
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Minha Festa
A cantora e (agora também compositora) Selmma Carvalho é mineira de Nova Lima e aos oito anos começou a estudar piano. Com curso superior no instrumento, ela surgiu no mercado musical em 1996 quando lançou o seu primeiro álbum com o qual se fez indicada ao Prêmio Sharp de Música na categoria Cantora Revelação. O trabalho seguinte (“Cada Lugar na sua Coisa”) viria quatro anos depois e com ele o convite para participar da trilha sonora da minissérie “Chiquinha Gonzaga”, levada ao ar pela Rede Globo, cantando “Ó Abre Alas”. Já o terceiro disco (“O que Será que Está na Moda?”) foi lançado em 2006 e obteve considerável receptividade por parte do público.
Após sete anos de jejum fonográfico, ela acaba de lançar de maneira independente o ótimo “Minha Festa”, cuja produção foi entregue à habitual competência do violonista Rogério Delayon, o responsável também pela criação dos arranjos. Trata-se, sem sombra de dúvida, do melhor título de sua discografia e uma das mais agradáveis surpresas lançadas este ano.
Dona de voz privilegiadamente límpida e afinada, Selmma possui uma emissão irretocável e seu timbre doce é de uma beleza que cativa imediatamente até o ouvinte mais desatento. Intérprete de bom gosto, ela soube escolher a dedo as doze canções que fazem parte do seleto repertório do novo CD. E pela primeira vez ousando mostrar seu lado de autora, ela assina quatro canções, duas delas solitariamente (a pop “Âncora”, iluminada pelo backing de As Formosas, e a bonita “Imperfeição” que nos remete a tempos pretéritos) e as outras com parceiros (a delicada “Paisagem Pra Você”, ao lado de Sérgio Moreira, e a solar “A Seu Dispor”, com Paulo Santos e Vander Lee).
Antenada, Selmma soube aliar temas inéditos com releituras de canções pouco batidas, conseguindo com que o projeto fluísse leve e alcançasse um resultado bastante harmonioso. É daqueles discos que a gente não se cansa de ouvir e que dificilmente alguém vai pular alguma faixa. Assim, já abre com pé direito os trabalhos com a inspirada “Nômade”, dos conterrâneos Samuel Rosa (o vocalista da banda Skank) e Chico Amaral. Adornada com exótica roupagem que remete a lugares díspares, a faixa traz ainda uma pra lá de bem-vinda participação nos vocais do paraibano Chico César. Outros talentosos artistas que surgem como convidados especiais são o carioca Fred Martins (na deliciosa inédita “Canção do Amor Doméstico”, música por ele composta junto com Francisco Bosco) e o mineiro Sérgio Pererê (na canção-título, pérola de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito que ganha insuspeitadas novas cores na voz de Selmma).
E se o polivalente Tuco Marcondes executa todos os instrumentos da faixa “Se Sorri ou se Chorei” (de Ricardo Koctus, outro mineiro, música originalmente gravada pelo Pato Fu), o já citado Delayon se une apenas a Felipe José que, a bordo de flauta e cello, confere um apropriado ar etéreo à bem-vinda releitura de “Amor” (de João Ricardo e João Apolinário), hit setentista dos Secos & Molhados. Em outras paragens, enquanto a sempre criativa matogrossense Alzira E se une ao irmão Jerry Espíndola e, juntos, se fazem presentes com a inédita e pulsante “Assim É o Coração”, o baiano J. Velloso comprova possuir o dom da composição ao tecer loas a um certo metafórico “Camaleão Vaidoso”. São dois ótimos momentos de um álbum que se conclui com a atualíssima “Caminhão de Lixo”, a qual, entre constatações urbanas, termina passando uma oportuna mensagem de otimismo.
Para quem ainda não conhece o trabalho de Selmma Carvalho, está aí uma excelente oportunidade de fazê-lo e com a garantia de que não se evocarão arrependimentos. É correr pra ouvir!
Clique aqui para ler a resenha original no Musiqualidade
Rubens Lisboa
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O que será que está na moda?
Desde muito cedo que a cantora e pianista Selmma Carvalho demonstrou aptidões artísticas. Natural de Nova Lima, a artista mineira vem batalhando para demarcar o seu espaço no competitivo mercado fonográfico nacional desde 1995, ano em que gravou o seu primeiro disco, no qual já antecipava refinamento na escolha do repertório, tanto que daquele CD constam escolhas pouco óbvias de autoria de Walter Franco (“Me Deixe Mudo”), Luiz Gonzaga (“Bilu Bilu”) e Vinicius de Moraes (“Ai Quem Me Dera”), o que a credenciou para que em 1997 fosse indicada ao Prêmio Sharp de Música na categoria de cantora revelação.
Em 2000, lançou o segundo álbum intitulado “Cada Lugar na Sua Coisa” e, de novo, mostrou-se bastante antenada ao gravar os talentosos Zeca Baleiro (“Se Você Me Ama”), Carlos Careqa (“São Solidão”) e Chico César (“Do Campo”).
Atualmente, acaba de chegar às lojas o seu terceiro álbum intitulado “O Que Será Que Está na Moda?”, uma produção independente que se transforma no seu melhor trabalho, credenciando-a a alçar vôos cada vez mais altos.
Foram inúmeras audições, pesquisas com sonoridades e diversos testes de arranjos até que se chegasse ao resultado final do disco recém-lançado, o qual leva a assinatura do competente Rogério Delayon na produção e na direção musical.
Selmma canta legal, com uma voz burilada por anos de estudo. É verdade que não possui um timbre único (por vezes lembra o de Jussara Silveira) nem se mostra propensa a interpretações teatrais, mas é incontestável que faz muito bem feito aquilo a que se propõe.
Vivêssemos em um país mais consciente musicalmente falando e ela já teria o seu trabalho reconhecido pois se denota o empenho depositado desde o trabalho gráfico até as músicas escolhidas (estão presentes canções assinadas por Nando Reis, Verônica Sabino, Tata Spalla, Batatinha, Vítor Ramil, Kali C. e Suely Mesquita).
Os melhores momentos ficam por conta da bela inédita “Pra Ser Levada Em Conta” (presente do conterrâneo Vander Lee) e das boas releituras de “Polaróides” (de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos), “Sinal dos Tempos” (de Antônio Villeroy e Bebeto Alves) e “A Espera” (de Kleber Albuquerque). Mas a nova versão do hit da Jovem Guarda “Eu Daria a Minha Vida” (de Martinha), com direito a citações em rap, também se revela uma ótima sacada!