Kiko Ferreira
comenta
sobre Selmma
Selmma Carvalho é uma das mais versáteis cantoras da música brasileira. No palco e nos discos, navega com competência, bom gosto e ousadia por um repertório variado, tratado com carinho e relevância.
Seja relendo clássicos da MPB (Nelson Cavaquinho, Vinícius de Moraes, Luiz Gonzaga, Batatinha), dando voz a seus contemporâneos (Matilda Kovac, Verônica Sabino, Zeca Baleiro, Chico César, Vitor Ramil, Totonho Villeroy, Vander Lee, Celso Fonseca, Ronaldo Bastos, Carlos Careqa), revelando pérolas ocultas (Kléber Albuquerque, Tattá Spalla, Luciana Pestano, Beatriz Azevedo, Rossanna Decelso, Kali C / Suely Mesquita) ou redimensionando malditos (Sérgio Sampaio, Walter Franco, Jorge Mautner), Selmma mantém o equilíbrio.
Não o equilíbrio burocrático dos intérpretes de aluguel, mas o olhar certeiro de quem sabe o que quer. E não se importa com obstáculos, verdades estabelecidas nem possibilidades de risco. Trata a boa música como valor máximo, ignorando modas e febres passageiras para construir uma carreira sólida e atemporal.
Selmma nasceu e cresceu em Minas, terra de harmonias sofisticadas, melodias bem construídas, tambores que se pronunciam nos tempos certos, dando passo ao compasso. Tudo isso ela herdou. Mas preferiu não ficar ligada a escolas, tendências, a classificações facilitadoras. Construiu e continua construindo seu próprio caminho, com a independência dos artistas que pretendem ir além de seu tempo.
A voz afinada e de timbre agradável conquista o ouvinte pela mistura bem dosada de influências, pela naturalidade com que chega às notas, cumpre partituras e arrisca nas horas certas em inovações e riscos calculados.
Se a música popular brasileira tem como bem vindas características a mistura e a polivalência, ela encontra em Selmma Carvalho uma voz à altura. Uma voz sempre disposta a bem cantar a música do bem, a música que o mundo nunca vai querer deixar de ouvir.
Belo Horizonte
2007